Nosso amigo plié

Postado por Indira Brígido On sábado, setembro 27, 2014
Toda aula de ballet clássico, ou 99% delas, inicia-se com um exercício chamado plié. O grande, o famoso, o mal falado, o tão brincado plié. Fui ao dicionário entender os significados do que estamos falando e pesquisei no Larousse da minha casa, encontrei o verbo plier. Com a ajuda do Google tradutor, porque eu não sei nada de francês, cheguei na seguinte definição: dobre uma parte sobre a outra - uma folha. Curva. Flexão. Ceder. A tradução de plié do próprio Google: vincado, dobrado. Com mais ajuda do dicionário de sinônimos: amassado. São muitas imagens corporais para um só movimento! 

A gente começa por ele nos exercícios para alongar e exercitar o nosso en dehors (que significa fora), e a rotação externa do quadril . Porém, plié não é só o dobramento de pernas, flexão da coxa e abertura de quadril. O abdômen é contraído, o esterno é acalmado, as escápulas escorregam para baixo, o pescoço alonga, a cabeça e o olhar mantém-se direcionados para o horizonte e os braços seguem a linha dos ombros estendendo-se constantemente. O corpo movimenta-se para cima. Uma imagem desse movimento seria uma mola que ao ser prensada mantém a força para cima e não para de esticar-se ao tentar retornar para seu tamanho original. A espiral que transpassa por todo o corpo no plié acorda a musculatura para a aula. 

Podemos fazer de várias maneiras o plié. A partir da curva da perna, do peso que cede, da flexão de articulações, do dobrado dos membros inferiores, do amassado da carne... São infinitos métodos de se pensar o movimento que envolvem o corpo inteiro e que eu acredito que todos criam corpos diferentes em nós mesmos. Quando criamos a imagem em nossa mente de como o corpo está se movimentando potencializamos o movimento. Não quer dizer que esteticamente sejam pliés diferentes quando experimentados uma ou duas vezes, mas mais importante, a diferença se dá no bailarino que cria o exercício, o formando e o deformando.  

Geralmente os professores de clássico não variam na criação para o imaginário dos alunos porque não é o objetivo deles, mas isso não quer dizer que todas essas outras maneiras de se pensar são inexistentes. Agora imaginem para os outros exercícios do ballet, quantas imagens podemos criar e recriar o ballet? Com a ajuda de metáforas o corpo se expande para diferenças. É um infinito criativo dentro do antigo universo do ballet clássico que o torna maleável e receptível de novas proposições criadas na contemporaneidade.

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Sobre

Estudante do 6º semestre de Dança Bacharelado na Universidade Federal do Ceará. Amante de ballet clássico e fotografia. O blog é um lugar para discutir e divulgar as danças que me atravessam.

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